Conselheira de empresas familiares e de capital aberto, Leila foi presidente e membro do Conselho de Administração do IBGC e hoje é co-chair no Brasil da WCD – Women Corporate Directors.
MEX BRASIL – Você, que participa de tantos Conselhos de empresas, o que ainda é mito e o que já está virando realidade quando o tema é Governança Corporativa?
Leila Loria– Eu acredito que os mecanismos de governança que têm sido implantados, não só o Conselho, mas os Comitês, os Grupos de Trabalho, a relação entre o Conselho e a Gestão, enfim acho que tudo isso está evoluindo bastante. O que ainda é um mito ou o que de fato precisa melhorar é o quanto a ética está presente em todas as decisões do Conselho, então ter os mecanismos não é a coisa mais complicada. O mais complicado é garantir que a cultura organizacional reflita a ética e a integridade em todas as decisões e em todas as instâncias da organização.
MEX BRASIL – A mulher está tendo espaço em Conselhos?
Leila Loria – Sim, mas a participação ainda é muito baixa e a evolução tem sido lenta. Mas a gente sabe que quando uma mulher entra no Conselho, a qualidade das decisões melhora, o clima melhora, o relacionamento, elas trazem uma nova dinâmica para o Conselho. As decisões se tornam mais inteligentes, no sentido de que envolve vários pontos de vista, vários ângulos de cada uma das questões, porém ainda temos que avançar nesses indicadores.
MEX BRASIL – Empresas com governança conseguem vencer melhor os desafios, como foi o caso da pandemia. Por que isso acontece?
Leila Loria – Eu reforço que o mais importante na governança são os princípios, já falei da ética, transparência, a responsabilização a diligência, enfim, valores que têm que estar presentes nos conselhos e em todos os órgãos de governança, para que de fato ela funcione. E elas estarão mais afinadas com os desafios futuros porque um dos conceitos que a gente fala nos Conselhos é o conceito da diversidade, equidade e inclusão. Criar um ambiente inclusivo é fundamental. As empresas que têm essa cultura inclusiva e que abrigam diversos pontos de vista conseguem ter a dinâmica de ter o ponto, o contraponto, diferentes opiniões. Essas vão ser as empresas vencedoras no futuro.
MEX BRASIL – A diversidade inclusiva é fundamental?
Leila Loria – Sim, afinal você tem um esforço, investe tempo para trazer diversidade para dentro da empresa, mas se não tirar proveito dessa diversidade, se o ambiente não é inclusivo, na verdade a diversidade não vale de nada. Devemos ir muito além da diversidade. É preciso buscar a mudança cultural e estrutural das organizações. Não adianta querer somente ‘check in
the box’, querer dizer que eu tenho muitas mulheres, eu tenho muitos negros, eu tenho muitas minorias de modo geral. Só que se os diversos não estão em posição de lideranças, muitas vezes, não participam dessa transformação nas organizações e acabam não ficando muito tempo porque não se sentem acolhidos, não se sentem respeitados. Aí de nada valeu tanto esforço, serão apenas números.
É preciso focar na diversidade que interessa, que traz efetivamente mudanças e resultados para as organizações. Não é questão de números, mas de aproveitar o potencial que a diversidade proporciona” – Leila Loria