Cláudio Zattar, hoje vice-presidente do Conselho de Administração da Unidas é um executivo de primeira linha com décadas de experiência à frente de grandes empresas e grandes equipes. Por mais de 25 anos ocupou posições de C-Level em empresas dos segmentos de petróleo e gás, mobilidade, automotivo e máquinas. Engenheiro mecânico e faixa preta de karatê, Zattar fala um pouco sobre a arte de formar campeões.
Cláudio Zattar – Minha jornada no karatê começou muito cedo, aos 11 anos, aos 18 anos já era faixa preta e professor logo depois. Foi no karatê que aprendi os três pilares que carrego até hoje: foco, para o que realmente importa; concentração total na execução e timing para decisões certeiras, concentração e timing. O karatê me ensinou mais que técnicas de luta. Karatê é estratégia, me deu disciplina, respeito aos oponentes e honra. Isso é uma coisa que faz parte do meu DNA. Quando migrei para o mundo corporativo, cada área completou minha formação: a engenharia me trouxe estrutura e metodologia, as vendas me ensinaram conexão humana, e finanças me deu foco em resultados. Cada experiência foi um pedaço fundamental que me moldou como líder, mas nunca abandonei os fundamentos que aprendi no karatê.
Cláudio Zattar – Aos 27 anos, assumi uma gerência de 80 pessoas na Petrobras em São Paulo – uma equipe considerada o “patinho feio” da empresa, que não batia metas há tempos. Meu antecessor, 15 anos mais velho, havia sido destituído por baixo desempenho. Eu era jovem, inexperiente em liderança e enfrentava um time desmotivado, com profissionais muito mais experientes. A solução veio por intuição: em vez de ficar trancado no escritório como os outros gerentes, arregacei as mangas e fui para a rua trabalhar lado a lado com as equipes de vendas e técnicas. Participava dos projetos, me expunha no campo e me tornei um elo direto para acelerar negociações corporativas que antes travavam na burocracia. Essa proximidade quebrou barreiras, conquistou respeito e transformou completamente a dinâmica. No primeiro ano, fizemos um turnaround impressionante – começamos a bater metas consistentemente e nos tornamos uma equipe de referência na empresa. Em quatro anos, deixamos um legado de contratos de longo prazo que mudaram a participação da BR no mercado. Eu não aprendi a fazer isso, eu não olhei em lugar nenhum, eu fiz isso por intuição. Mas entendi a partir daí que liderar não é comandar de longe, mas estar presente, se comunicar genuinamente e ganhar respeito através de resultados construídos em conjunto. Desafiador, sem dúvida. Mas também é uma vantagem. É um jogo em que estar mais próximo das pessoas nos dá um retorno muito gratificante. Estar mais próximo dos nossos clientes, ter liberdade para inovar e decidir rápido são vantagens que só uma empresa como a nossa tem. Trabalhamos com verdade, coragem e uma identidade que nos diferencia. Queremos ser os mais relevantes para quem acredita na nossa proposta.
Cláudio Zattar – A atração de talentos começa muito antes da conversa de recrutamento. Ela nasce dos ambientes que você constrói com sua equipe atual. Primeiro, foco em valorizar e reconhecer as pessoas que já estão comigo, estabelecendo metas justas, colocando cada um na posição certa onde podem brilhar. Quando você forma times que entregam resultados consistentes, isso gera uma referência natural que atrai talentos tanto internos quanto externos – as pessoas querem fazer parte de um time vencedor. Sempre preservei muito o clima organizacional e relacionamentos saudáveis, porque quando o ambiente é positivo as pessoas sentem prazer em trabalhar e se superar. Talentos excepcionais são atraídos por essa energia. Além disso, incentivo o desenvolvimento contínuo – a empresa abre portas e dá ferramentas, mas cada pessoa precisa buscar sua própria capacitação e crescimento. Quando você cria um ambiente de aprendizado constante, onde o conhecimento é valorizado, as pessoas se desenvolvem, crescem, geram ciclos de crescimento, os talentos vêm naturalmente, porque querem fazer parte de uma equipe que realmente faz a diferença.
Cláudio Zattar – Meu pai tinha uma habilidade única que seus contemporâneos definiam como “capaz de dar um nó em pingo d’água com luva de boxe” – ele não tinha barreiras para fazer as coisas acontecerem através das relações pessoais. Só compreendi a genialidade disso quando entrei no mundo corporativo. Ele criava um mapa mental das pessoas com quem convivia e usava essas conexões naturalmente para construir relações comerciais duradouras. O mais impressionante era sua capacidade de transformar pessoas em pés difíceis em parceiros e amigos, quebrando paradigmas relacionais com naturalidade incrível. Adaptei essa filosofia entendendo que cada pessoa é única e que saber navegar por essa diversidade humana é fundamental para o sucesso. O principal aprendizado que levo é de que sem pessoas que aprendi com meu pai e compartilho a visão de que construir relações genuínas é a base de qualquer conquista profissional.
Cláudio Zattar – Abraçar o novo não é apenas ser inovador – é entender profundamente o ambiente e se adaptar constantemente a ele. Primeiro, aceitar que a mudança é única constante e desenvolver a capacidade de se reinventar continuamente. Segundo, tenha coragem para correr riscos calculados, mas com disciplina e estratégia para saber quando recuar. Terceiro, se algo não der certo, ajuste a estratégia e tente novamente, mas nunca desista do objetivo principal. É como no karatê, onde buscamos o “kio” – equilíbrio dinâmico com jogo de cintura para se adaptar. A liderança exige firmeza nos valores, mas flexibilidade na execução, entendendo que a mudança não é ameaça, mas oportunidade constante de evolução.