Viva de propósito
Ele tem a capacidade de deixar todo mundo reflexivo. Ou, como ele mesmo diz, ‘vim aqui para perturbar’. Estendemos um pouco o bate-papo de abril, com o professor, autor, polímata, Darwinista Digital, Futurista, Carlos Piazza, e trazemos aqui algumas novas contribuições para quem está buscando entender esse novo mundo, cada vez mais tecnológico, rápido e caótico.
MEX BRASIL – Qual seu conselho para as executivas MEX para sobreviver em um mundo cada vez mais digital e tecnológico, visto que esse é um caminho sem volta e acelerado?
Carlos Piazza – Ter um pensamento de largo espectro. Temos um pensamento muito curto prazista, muito focado em nossas próprias especialidades. É preciso se apropriar dos novos tempos. E pensar o futuro é pensar em uma janela de no máximo cinco anos. Não é um futuro distante. A taxa de atualização da tecnologia acabou encurtando esse tempo do ‘futuro distante’. Cinco anos já são considerados longo prazo e as mudanças acontecem em um prazo muito mais curto hoje em dia. Precisamos também abandonar o modelo ‘fordista’ de pensamento, relacionado à produção seriada e um mundo seriado. Precisamos abrir uma janela para o futuro, ser mais amplos.
MEX BRASIL – O senhor comentou que estudar a tecnologia é importante para entender a escala da mudança. Por onde devemos começar?
Carlos Piazza – Aqui tenho uma dica prática, porque informações existem aos montes. O Google traz tudo o que você precisa e mais um pouco. Assim é difícil ficar atento a tudo. Então eu recomendo uma ferramenta gratuita – o ‘Google Alerts’ – que emite sinais de alertas sobre suas áreas de interesse e são enviadas ao seu e-mail. Se você fizer uma combinação de chaves, por exemplo: tecnologia + metaverso + governança, e incluir a busca em outras línguas, como inglês e francês, você tem rapidamente um perfil atualizado de tudo o que está sendo publicado no mundo, inclusive nas universidades, e vai poder se debruçar sobre o tema. Indicando inclusive a frequência que você quer ser atualizado em sua busca. Mas aí o seu e-mail vai ficar entupido. Então é preciso fazer o segundo passo: usar o aplicativo ‘Pocket’ para fazer a seleção daquilo que pretende ler mais tarde, guardar, enfim, criar uma biblioteca super interessante dos conteúdos que vão ajudar você a se atualizar na velocidade do mundo. Isso é muito poderoso, existe muita informação circulando, e agora você pode tirar o melhor proveito de tudo isso.
MEX BRASIL – Uma das habilidades da nova era é aprender a viver no caos?
Carlos Piazza – Viver no caos é admitir que não existe nada óbvio e a ordem não se explica. Viver no caos não é só receber toneladas de informação ao mesmo tempo, mas perceber o nível de conectividade que há entre tudo isso, para entender o nexo de causa. E tem mais, nesse mundo caótico, a tecnologia impera e falar de digital não é falar de máquina, mas de gente, e entender como a tecnologia afeta a humanidade. Nós temos acesso cada vez a mais tecnologia, mas devemos também acessar mais a filosofia, isso combinado é que gera a transformação. O caos é bárbaro.
MEX BRASIL – Como as mulheres podem sair das ‘cavernas da criação do mundo’? Ou seja, quais atitudes podemos ter para entender que temos capacidade de sobreviver nesse novo mundo e quando não as temos, como podemos nos capacitar?
Carlos Piazza – Esse é sempre um ponto interessante. Inteligência não é um assunto de gênero. O mundo é complexo e extremamente fragmentado. As mulheres não têm que pedir licença, não tem que aprender, tem que ocupar. Fundamentalmente: é não esperar. As mulheres têm percepção, criatividade e cognição suficiente para navegar bem por esse novo mundo, mas às vezes tem que ter um pouco mais de coragem.
MEX BRASIL – O senhor também comentou que nossa principal obrigação na vida é ‘ser feliz e fazer tudo de propósito’. De modo geral as pessoas entendem isso?
Carlos Piazza – As pessoas estão desempenhando roteiros. Uma percepção equivocada, porque fomos treinados pelos nossos pais, que viveram em outro tempo. A vida parece um inimigo que a gente precisa vencer. Quando você desempenha roteiros está preso em uma lógica que não é nossa. Você foi treinado para ser competitivo, ter sucesso material e alta liderança. Mas isso não é para todo mundo. As pessoas precisam estar abertas para novos entendimentos. As pessoas felizes bancam essa jornada que passa pelo autoconhecimento, visão crítica do mundo e fazem tudo de propósito. Estudam de propósito. Têm uma visão mais ampla de propósito. Se relacionam de propósito e experimentam de propósito. Aprender pelo erro, ainda é uma proposta muito válida.
MEX BRASIL – O senhor sugeriu trocar a palavra resiliência por plasticidade. Qual a diferença? O que impacta e aonde a mulher pode exercer mais plasticidade em sua carreira e liderança?
Carlos Piazza – Sim precisamos ter plasticidade ao invés de resiliência. E isso vem da ciência dos materiais. Quando você se torna resiliente, a pressão é exercida, você se dilata, se molda a esse impacto, mas quando isso passa, você volta ao que era. A plasticidade não. Quando você coloca pressão, você também se ajusta, mas essa pressão te transformou, você nunca volta a ser o que era e você evolui. Temos que ter plasticidade para expandir nosso conhecimento e avançar em nossos ciclos. Então sejamos plásticos e fáceis no trato . Ser ‘facinho’ é a melhor coisa do mundo.
Frase destaque
“Falar de transformação digital não é falar de tecnologia, mas de uma sociedade transformada por ela, com uma nova organização social e econômica.”
Carlos Piazza Professor, autor e provocador
Baixe a entrevista completa: MEX abril CARLOS PIAZZA
Fotos por: Rick Nogueira
Conteúdo por: Angela Wanke