Mini currículo: Formação - Psicologia. MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Dom Cabral, Especialização em Dinâmica de Grupos pela SBDG, Coaching Executivo pela Abracem e Abordagem Relacional Sistêmica pelo Instituto Relacional Sistêmico
Sou a filha caçula de 4 irmãos (tenho mais duas irmãs e um irmão mais velhos), a bebê da casa, e como tal fui criada de forma mais independente, e ao mesmo tempo fui muito amada.
Minha mãe casou-se cedo, e foi concluir seus estudos, quando eu já completara 5 anos de idade. Foi muito bacana, lembro ainda hoje a torcida para ouvir seu nome na rádio quando passou no vestibular e ter podido ir na sua formatura em Serviço Social.Acompanhei, portanto, desde cedo o esforço da minha mãe para manter as responsabilidades da casa, filhos e ainda concluir uma faculdade. Na sequência, veio seu primeiro emprego, aos 38 anos. Uma conquista de independência e autonomia, que era muito significativa naquela época. Cresci, ouvindo-a dizer, especialmente para as filhas mulheres – “nunca dependam de homem nenhum, trabalhem, tenham seu próprio dinheiro”.
Meu pai sempre a apoiou na questão profissional, os dois tinham uma liderança na comunidade muito expressiva e se apoiavam bastante mutuamente. No entanto, ele sempre foi muito autoritário, temperamento forte, de pouca conversa, o que provavelmente, foi um dos motivos pelos quais cursei psicologia. De qualquer forma, tê-los como referência foi muito importante, meu pai, além de economista, é advogado e seguiu uma carreira executiva. Ambos foram exemplares na questão ética e integridade. Com certeza isto me influenciou bastante na trajetória profissional.
Sempre fui excelente aluna, e já no meu último estágio de psicologia, um pouco antes da graduação, fui convidada a ficar na empresa, já em posição de supervisão. Algo prematuro, mas que já revelava minhas habilidades de liderança.Foi uma passagem profissional muito rápida, mas serviu para firmar meu gosto pela psicologia organizacional e acabei seguindo carreira nesta área trabalhando em um grande Grupo de Comunicação do Rio Grande do Sul.
Após o nascimento da minha segunda filha, tive meu primeiro desligamento, o que foi um grande aprendizado, pois após 16 anos em uma mesma empresa, você desacredita na possibilidade de recomeçar em outro lugar, sempre comparo à ruptura de um casamento, a primeira vez é sempre mais difícil.
Aos 37 anos, iniciei uma nova fase da minha carreira, agora em uma multinacional americana, e coincidência ou não, com a idade que minha mãe começou a sua própria carreira. Isto foi um marco para mim, pois a vivência internacional abre os horizontes e amplia suas perspectivas culturais e de aprendizado.
Após alguns anos, recebi o convite para vir para Curitiba, trabalhar em uma multinacional francesa que estava prestes a iniciar um processo de transformação do qual vim a fazer parte. Aqui destaco dois fatos de suma importância na minha vida pessoal e profissional:
– O primeiro, a mudança de cidade, com duas crianças (3 e 7 anos), inicialmente sem o marido para aventurar-me em novo desafio profissional. Trata-se de um desafio em vários aspectos, pois faz com que você aprenda a pedir ajuda, a contar com os outros e ao mesmo tempo, gera muita independência quanto ao teu núcleo familiar de origem. Forçosamente, você se abre para conhecer novas pessoas e isto, posteriormente, teve grande influência na formação da minha rede de relacionamentos.
– O segundo, a vinda para uma empresa muito conservadora, mas que abriu um espaço muito significativo para a contribuição daqueles que queriam gerar mudanças positivas, mudanças culturais e que culminariam em excelentes resultados para o negócio. Sinto-me uma protagonista deste processo no que tange aos aspectos relacionados às práticas de gestão de pessoas que passamos a implementar. Foram 9 anos de muitos projetos, muitas rupturas, e muita gratificação profissional.
Observo que ao longo da minha trajetória, o fato de ser mulher foi ao mesmo tempo um facilitador, uma vez que trabalhando em ambientes bem masculinos, havia uma certa curiosidade para ouvir o diferente, e ao mesmo tempo, colocando um pouco de afeto nos relacionamentos e proximidade, eu conseguia ser escutada. Por outro lado, houve momentos em que, especialmente, nas situações de decisão quanto a cargos de liderança, o fato de ser mulher, ter filhos, e talvez menor disponibilidade em relação aos homens, isto também influenciou impedindo algumas oportunidades. Entendo que para que uma mulher tenha sucesso profissional, a mistura do pragmatismo de querer ver as coisas realizadas, a multifuncionalidade, a habilidade de equilibrar várias frentes ao mesmo tempo, aliadas à sensibilidade, àquele toque mais direto que permite e , de certa forma, provoca para que o ambiente em que se encontra entre em contato com seus sentimentos, que favorece que aflorem os pensamentos verdadeiros, aquilo que cada um tem de mais autêntico para dar como contribuição, é uma força sem tamanho e é uma habilidade muito feminina. Não que seja privilégio das mulheres, mas sim, em sua maioria.
Sinto-me uma profissional de sucesso, mas que ainda tem muito para realizar pela frente. Com a maturidade desenvolvida, com as filhas maiores e mais autônomas, abre-se um espaço para maior foco profissional, uma disponibilidade que antes não estava tão presente. Passei a ambicionar uma liderança mais estratégica e este é um caminho que ainda quero trilhar.
Dica de vida
Não temam exercer seu lado feminino. Aquela contribuição que sabemos dar com maestria, o olhar que enxerga além daquilo que está explícito, que conecta vários fatos e intui de maneira, por vezes, inexplicável, mas certeira.
Devemos sim, ter a objetividade e praticidade que o mundo dos negócios exige, mas jamais deixar o subjetivo de lado. Este pode ser o nosso diferencial. A possibilidade de ser mais diretiva e dura quando a situação exige, mas, por outro lado, extremamente carismática e afetiva para acolher, ensinar, incentivar aqueles que estão a sua volta para que cresçam e ganhem o mundo, busquem suas oportunidades e tenham sucesso.
E por fim, perguntar, perguntar, perguntar. Demonstrar curiosidade, vontade de aprender e desprendimento para experimentar e arriscar-se, questionando com frequência. Certamente, estes comportamentos são uma marca registrada do meu exercício profissional e me trouxeram até aqui hoje. Adriane Parissi