Mini currículo: Formação – Advogada. Pós Lato Sensu pela University of California, San Diego, em Marketing Management e Business Management. Mestrado em Administração pela COPPEAD-UFRJ.
Desde pequena, minha irmã e eu fomos educadas por minha mãe para termos uma vida profissional e com isso sermos independentes. Tivemos o privilégio de boas escolas, o aprendizado do inglês e francês, tudo como condição essencial para termos boas oportunidades. E assim foi. Meu interesse pelo mundo acadêmico sempre foi grande. Mesmo depois de casada continuei a estudar nos Estados Unidos e posteriormente fiz mestrado no RJ. A carreira executiva surgiu um pouco por acaso, ao final do mestrado e de uma passagem de três meses pela Ecole Superieur de Commerce, de Lyon, França. Foi nessa época que participei de um processo seletivo do HSBC. Durante a entrevista o questionamento era sobre minha capacidade de utilizar na prática todo meu conhecimento teórico. O desafio me interessou. Fui aceita.
Aos 28 anos iniciei no banco como Sales Planning. Uma área de suporte ao Diretor de Varejo, que me permitiu grande visibilidade sobre o dia a dia das agências. No cargo os desafios apareciam e pouco a pouco, mesmo me considerando algumas vezes subqualificada para muitos deles, aceitava. Passado um ano e meio, assumi a gerência da área de Telemarketing, que contava com 110 operadores e aproximadamente dez pessoas no suporte. Me lembro claramente do medo em assumir tamanho desafio, já que a área estava passando por dificuldades, e de dois grandes conselhos recebidos. Do meu pai: “- Esta é uma oportunidade para você saber se quer seguir uma carreira técnica ou de gestão” e do meu marido: “- Se tudo der errado, eu ainda estarei do seu lado”. Até hoje me emociono e tenho certeza de que nunca trabalhei tão duro. A preocupação com o time me fazia trabalhar das 8h às 20h. E, em paralelo, aos fins de semana, finalizava minha tese de mestrado.
E assim, as oportunidades e desafios foram aparecendo. Assumi a Gerência Regional de Aquisição da Rede Paraná. Precisava fazer a gestão da equipe à distância e identificar os indicadores críticos de sucesso. Muitos dos colaboradores estavam na área sem o devido treinamento. O time, que entregava 9 contas/mês por cada colaborador, em seis meses, passou a entregar 23 contas/mês. Os novos cargos vieram até que tive a oportunidade de trabalhar por quatro meses no Grupo HSBC no Canadá. Na época meu filho já havia nascido e estava com dois anos. O maior ganho foi viver em um país que valoriza a flexibilidade de horários e o home office. Foi meu período de maior equilíbrio e qualidade de vida. Na volta ao Brasil, minha diretora me mostrou a realidade da vida da mãe profissional: “Pratos vão cair, seja aqui no trabalho, seja na sua casa. Se você aceitar isso como um fato, vai conseguir se sentir melhor”. Acatei o conselho e desde então pratos caem aqui e ali, mas continuo dando o meu melhor! Hoje estou novamente no ambiente de telemarketing, sou diretora do Phone Center, com aproximadamente 900 funcionários diretos e gestão sobre duas parceiras de telemarketing que juntas empregam outros 1300 operadores e coordenadores.
Ao longo da carreira, tive que abdicar de algumas coisas, em benefício de outras. Logo que minha filha nasceu, fui convidada a assumir uma posição na América Latina, mas tomei a decisão de não ir. Nos vários processos em que trabalhei, tenho certeza de que desenvolvi pessoas, mas também sofri com a dura decisão de perder profissionais qualificados em reestruturações. Gosto e tenho orgulho das coisas que construí, muitas das quais foram as bases sobre as quais muitas outras melhorias vieram. Mas ainda há muito o que fazer. Acredito que conhecimento, trabalho, responsabilidade, criatividade e entrega de soluções são a chave para a conquista de novos espaços. Hoje estou em uma posição, na área de Varejo, pouco ocupada por mulheres. Já vi avanços, mas ainda precisamos ir além. Acredito que, nós mulheres, falhamos muito em não “nos vender caro”. Os homens têm uma habilidade maior em dizer que fazem algo quando não fazem ou ainda não estão 100% prontos. Nós mulheres, temos a propensão em colocar “a mão no vespeiro” de forma mais aberta. Isso é ótimo para a solução dos problemas, mas nem sempre benéfico para a construção de uma boa imagem. Há quem prefira deixar os problemas nas entrelinhas. Eu não, prefiro continuar deixando uns pratos cairem aqui ou acolá, e ir em frente. Quero deixar minha marca, meu legado.
Dica de vida
“As mulheres precisam confiar mais em si mesmas. Afinal, não devemos nada a ninguém. Isso vale para relacionamentos entre mulheres X homens, mulheres X mulheres, brasileiros X estrangeiros. Já vi muita coisa, mas o fato é que quem é bom, é bom em qualquer lugar, independente do seu gênero ou nacionalidade.”, Claudia Marques Freire.