Mini currículo: Formação – Economia. Especialização em Finanças, Metodologia do Ensino Superior, Administração Hospitalar, Gestão Educacional e Controladoria.
O trabalho esteve presente na minha vida muito cedo. Meu pai era dono de uma empresa de táxi e minha irmã e eu o ajudávamos a controlar e pagar as contas do dia a dia, trocar óleo de carros, consertar as câmeras de ar, desmontar motores para ir para retificação. Literalmente, colocávamos a mão na graxa, com muita facilidade. Mas não parava por aí. Como minha mãe era costureira, também a habilidade de agulha e linha formaram nossos primeiros passos profissionais: pregar botão, chulear roupas e alinhavar vestidos para as provas eram nossa diversão. Muito cedo fui tendo o senso de responsabilidade também pela família. Perdi meu pai, quando ele tinha 57 anos, e eu 22, em julho de 1979, no final do mesmo ano em que me formava no curso de Economia. Já quando passei no vestibular, busquei uma colocação. A universidade era paga e todos os recursos que entravam mal davam para cobrir os gastos da empresa, manter a casa e os remédios do câncer que acometeu meu pai. Foram tempos difíceis. Mas foram tempos que forjaram minha personalidade. Em meio a esses afazeres, hoje vejo que fomos sendo talhadas pelo senso de responsabilidade, dedicação e cuidado aos detalhes. Sempre fui muito tímida, tinha certa dificuldade de aprendizado, mas tinha consciência de que tinha que ir além. Me esforçar mais. Não esmorecer.
Meu primeiro emprego foi no Banco Nacional como caixa e escriturária, era 1976, em um tempo que não existia informática e o fechamento de contas era manual. Depois, fui fazer estágio no SESC. Uma rotina que exigia 15 dias de trabalho dentro do SESC e 15 dias no INSS. O objetivo era auditar e intimar as empresas que recolhiam erroneamente os valores do SESC nas guias do INSS. Foi um aprendizado importante. Fiz contatos. Fui em frente. Com apenas 21 anos, troquei de emprego e fui trabalhar na Construtora Pinheiro, que tinha matriz em São Paulo e desejava abrir uma filial em Curitiba. O escritório acabou sendo na minha própria casa. Já tinha toda a infraestrutura necessária e ficava próximo à família para dar assistência ao meu pai. Com seu falecimento, nossa empresa de táxi precisava ser vendida. Na época, mulheres “não tocavam” esse tipo de negócio. Em mais alguns meses, também a construtora foi vendida.
Um novo ciclo encerrava e outro começava na minha vida. A nova fase profissional foi no Inocoop, um Institututo que prestava assessoria às cooperativas habitacionais do Estado do Paraná. Fui trabalhar na área comercial, que não era meu foco, mas precisava de um salário fixo para reestruturar minha vida. Mais tarde tive a oportunidade de ir para a área financeira, aproveitando minha especialização. Após quase três anos, veio um convite de um dos diretores – que era também professor de cursinho – para trabalhar em uma empresa educacional, da qual ele era sócio e estava começando a gestão. Na época, não tinha as competências necessárias para dar conta de tudo: contratos, pessoal, treinamento. Mas tinha o apoio desse diretor e a certeza de que eu correria atrás do que fosse preciso. Na nova empresa hoje, o Grupo Dom Bosco, tive a oportunidade de conhecer outros diretores que foram o exemplo de vida e carreira que precisava. Fiquei encantada com a forma que eles trabalhavam e com o crescimento sólido que ano a ano vi acontecer. Tudo tinha que ser muito bem feito e organizado. Passaram-se 15 anos e fui convidada a fazer parte da sociedade. Tornei-me Diretora Financeira da empresa, em 1999. E quem indicou meu nome? Aquele professor de cursinho, que se tornou meu amigo e grande mentor. Acreditou na minha transparência, no meu trabalho e dedicação.
Olhando minha trajetória de carreira, vejo que aprendi e sonhei muito. Mas também aprendi a entender que nem todo sonho é o “seu caminho”. Queria dar aulas na faculdade e trabalhar em hospital. Mas nenhum dos sonhos foi em frente, embora tivesse tentado, buscando especializações nas áreas. Sempre procurei ter um olhar de aprendizado na vida, porque o mundo muda, e precisamos estar atentas às mudanças e abertas ao aprendizado. Fiz vários cursos. Me adaptei às mudanças de mercado. Casei, tive um filho. E após três meses, retornei com ele a tiracolo para o trabalho. Fui pioneira em levar meu filho para a empresa e com isto o projeto do berçário foi antecipado. Foram anos de luta e também de alegrias. Fiz mais duas pós-graduações. Uma em Gestão Educacional outra em Controladoria. Quando meu filho tinha 10 anos, minha mãe faleceu. Fiquei sem chão. Então, meu marido que tinha escritório de advocacia, resolveu trazer o escritório para casa para atender melhor nosso filho. Ele dizia quem um menino não poderia ficar por aí, tinha que ter disciplina, e assim aconteceu, meu marido abriu mão de sua carreira para o bem estar da família. Só mais tarde, voltou a ter escritório no centro da cidade. Sem o apoio deles jamais teria feito a trajetória profissional que vivi. No Grupo Dom Bosco, passei a me envolver na gestão de cinco empresas. Desenvolvi uma metodologia diária, em que tinha a visão do toda e ao mesmo tempo a particularidade de cada uma delas. Obtendo assim respostas precisar e rápidas, para integrar todas as áreas. Qualidade total e desperdício zero também foram marcas de minha gestão. Foram 29 anos de relacionamento com muitas pessoas e muitas histórias. Acredito que deixei um legado pelas minhas atitudes.
Hoje, sou conselheira fiscal da Época Investimento e Participações Ltda e presto consultoria financeira para pessoas e empresas. Vivi muito, mas quero viver mais desafios. Alimento o sonho de desenvolver junto à comunidade do litoral paranaense a preservação e o cultivo de plantas nativas do local. Adoro a natureza. Acredito que esse será um frutífero desafio.
Dica de vida –
“O grande segredo é fazer o que se ama. Assim as coisas ficam mais leves. Acredite em você, dedique-se e tenha em mente que nada cai do céu, não espere sentado, vá à luta, acredite no seu potencial e estude. Ajude ao próximo, não seja egoísta e, principalmente, não esqueça de sua vida pessoal, forme família, tenha filhos, viaje, ame, porque a vida sem eles nada terá sentido. A carreira é importante, mas não é tudo. De nada adianta ter se esforçado tanto, ter sucesso profissional e não se realizar enquanto família. Porque envelhecemos e o maior legado que podemos deixar é nossa continuidade. Ame e tenha gratidão por sua origem, seus antepassados e suas conquistas e o próprio universo se encarrega de fazer a outra parte! ”, Joserlei Scarpin Pereira.