Mini currículo: Formação – Psicologia. Especialização em Recursos Humanos (FAE), Gestão Empresarial (ISAE/FGV) e Gestão de Negócios (IBMEC).
Sou herdeira de um grupo de empresas, fundadas pelo meu pai, Hairton Luiz Romani, empreendedor que nos anos 60 veio do interior de Caxias do Sul conquistar o Paraná. Fui criada para ser uma filha autônoma, que sabia cuidar de si, e assim fiz. Minha carreira profissional seguiu o curso natural da sucessão familiar. Mas, ao contrário do que muitos possam pensar, essa talvez seja uma trajetória ainda mais difícil do que buscar construir um destino profissional em uma carreira própria. Cursei psicologia e, recém-formada e ainda sem experiência, fui trabalhar com gestores que já tinham pelo menos 15 ou 20 anos de empresa e me viam como uma ameaça e não uma soma para a trajetória. Conquistar o respeito e a confiança de todos foi um grande desafio. Vencido aos poucos. Mas construído com segurança. Ingressei inicialmente em uma das empresas da família, do ramo de transporte coletivo, com o desafio de estruturar a área de RH, até então terceirizada. E nessa área fiquei por 12 anos, com todos os desafios inerentes ao cargo. Foi um período de grande crescimento pessoal e profissional. Me casei. Tive dois lindos filhos, Murilo, e Luiza, que já trilham seu caminho profissional, ele cursando Engenharia de Produção, muito objetivo e lógico, ela cursando jornalismo, sempre questionadora e argumentadora. São o maior motivo de orgulho em minha vida! Me separei. Cresci, amadureci e me desenvolvi com este processo. Frequentei novos cursos e enfrentei novos desafios. Fui construindo um nome dentro e fora da empresa. Fui pioneira no MEX, que para mim foi um divisor de águas, pois aprendi que “não precisamos nem devemos nos esconder” e que sou o melhor marketing de mim mesma. Aprendi a fazer networking e descobri, através da experiência de outras executivas, o quanto podemos crescer, evoluir, seguir em frente, sem medo.
Veio então o início do processo de sucessão e passei a me envolver mais diretamente na área administrativo-financeira de todas as empresas do Grupo. Criar um Conselho Executivo, gerenciar interesses de acionistas, administrar a “saída” gradativa do meu pai do comando das empresas e encontrar assento no comando do Grupo, têm sido parte da minha rotina profissional nos últimos dois anos. Como as empresas que administro são de um segmento extremamente machista, onde não raro sou a única mulher em reuniões de trabalho, sinto a resistência de outros empresários do setor e até mesmo de empresas ligadas ao nosso negócio. Sempre procurei vencer essas “resistências” com muito profissionalismo e tratando meus pares e outros de igual para igual. Além de buscar ações que demonstrassem seriedade e reafirmassem minha preocupação com os resultados atingidos. Na empresa de transporte coletivo, o cuidado com a qualidade no atendimento e com a segurança de nossos passageiros sempre foi a minha preocupação número um, fato atestado com a conquista do prêmio Volvo de Segurança na categoria Empresas Transportadoras, mostrando que o caminho estava certo.
De minha parte, tenho várias mulheres na minha equipe diretamente ligadas a mim e posso dizer que gosto muito de trabalhar com elas. No segmento de transporte coletivo, sempre tive um perfil arrojado e inovador, o que nos levou a ser a primeira empresa do segmento a contratar mulheres para o cargo de cobradoras e a segunda a ter mulheres motoristas profissionais.
Sou uma otimista por natureza e por isso acredito sempre num momento melhor, numa nova oportunidade, numa possibilidade diferente, mesmo que a situação se apresente quase que intransponível. A coragem me move nestes momentos. A boa notícia é que pouco a pouco o universo feminino está chegando a esse segmento, com mulheres já ocupando cargos decisórios.
Enfim, encontrar o sucesso no comando de uma empresa, definitivamente não é algo fácil. Mas é desafiador, sempre. É preciso ter uma boa dose de coragem, jogo de cintura, uma certa dose de resiliência, muita persistência e determinação. É preciso saber lidar com os diferentes públicos, não só masculinos e femininos, mas masculinos e femininos chefes, femininos pares, que por vezes, lamentavelmente, podem ter até “uma certa inveja”. É preciso saber que nunca devemos agir com intransigência. Ouvir o outro é um ótimo exercício. Ter cuidado para não parecer nem “uma figura frágil”, nem tampouco “a mulher masculina”, que resolve tudo mas que trata todo mundo com mão de ferro. Isso é passado. E meu interesse é o futuro. Nos próximos meses, devo assumir sozinha a Direção Geral do Grupo. Mas, diferente do meu pai, já assumo, pensando em – no máximo seis anos – iniciar a nova fase de transição e buscar sucessores. Prepará-los(las) para os desafios que sempre encantam, motivam e põem a vida em movimento.
Dica de vida –
“Acredite em si. Na sua capacidade técnica, mas igualmente na sua capacidade humana. Você pode tudo aquilo que você decidir fazer. O grande diferencial está em saber balancear o lado racional e o afetivo; o da cobrança e do bom senso; o que entende de projetos, números e técnicas, mas também aquele que percebe sentimentos, aflições, inseguranças e incertezas. Pensar com o coração e sentir com a razão por vezes pode ser uma boa equação. Não é preciso assumir o lugar dos homens. Isso é passado. Mas faça o que for preciso para compartilhar o espaço com eles. E, na vida, não abra mão da felicidade, seja em nome de cargo, status, salário maior, promoção, um novo emprego. O mais importante é estar bem consigo. Aí reside o segredo do sucesso, esteja onde você estiver”, Lígia Romani.